domingo, 6 de março de 2016

O azar do Mestre Cuca


O azar do Mestre Cuca                   

Base Naval de Natal, ano 1981. Os licenciados daquela tarde de uma sexta feira lotavam a Sala de Estado e com certa ordem se dirigiam ao Cabo de Dia para serem anotados no livro de licenciamentos. O oficial de serviço, sentado frente ao birô, observa calado o pequeno murmúrio dos marinheiros, todos prevendo um gordo fim de semana em seus destinos. O oficial avisa para o Contramestre que dentro de cinco minutos ia liberar o pessoal”.  Nesse instante um jipe pára de chofre frente ao prédio e desce apressado o tenente Ferreira portando uma pasta tipo 007 na mão, fala qualquer coisa com o Tenente Wilson, o Oficial de serviço, e deixa a maletinha preta ao pé do Birô. Despede-se do outro e retorna a passos largos ao jipe que larga acelerado.  Uns retardatários vão chegando procurando o Cabo de Dia, dentre eles o Mestre Cuca portando uma maletinha 007 que a deixa também no pé do birô indo direto ao homem de serviço. Licenciados Formar!- diz o Contramestre para a turma já perfilada como de praxe. O Tenente muito legal deu uma olhada amistosa na formatura, dispensou a revista de malas e sacolas e liberou a galera. O retardatário da 007, aliviado, deixa a formatura , passa pelo birô e pega a maleta preta saindo rápido da sala de Estado e subindo a ladeira e  parte célere ao bairro do Alecrim . Dizia pra si:- o tenente é mesmo um boa praça, não fez a inspeção nas malas. Tanto melhor... Cinco minutos depois, o Portaló (Sala de Estado) estava limpo, vazio restando apenas o pessoal de serviço:  Ronda, Cabo de Dia, o Contramestre e o Oficial de serviço. O tenente oficial de Serviço bem relaxado na cadeira giratória pega na alça da 007 deixada pelo tenente Ferreira e põe sobre as pernas e diz: - o que é que o Ferreira tem aqui dentro que pesa tanto

No Alecrim o Mestre Cuca se embrenha numa Vila de marinheiros pra botar o Paisano, já cercado por dois colegas que perguntaram:- Então deu tudo certo? Responde – Sim, o homem nem inspecionou as Gateiras.

Na Sala de Estado o Tenente curioso diz pra si: engraçado a maleta do Ferreira está fria, chega a estar suada.

No Alecrim, o mestre Cuca e seus campanhas, já com uma garrafa de cerveja na mão, põem a 007 sobre uma mesa e ao abri-la sente um terrível calafrio fluir da sua nuca até a base do Cox.

Na Sala de Estado, o Tenente curiosamente abre a 007 do colega.

No Alecrim, o Mestre Cuca, trêmulo abre a 007 e vê em meio a Planos de Dia, duas impecáveis platinas de Primeiro Tenente QC e os três uníssonos esbravejaram: Naaaaaaaaaaaaaaão!!!

Na sala de Estado o dono da maleta chega e se espanta com aqueles trinta Bifes bem temperados arrumadinhos dentro da sua da 007. O Tenente de Serviço, irônico diz: - certamente houve uma troca de maleta.  

Chache, Tito e Chime


Chache, Tito e Chime

 
Três ladinos gatos de uma mesma casa que fizeram história lá no Engenho Mangueira. Três felinos de características próprias, cada um atuando na sua especialidade. Era assim na casa de Seu Joaquim no Engenho Mangueira que esse trio de Bichanos morava e fazia suas estripulias.

O gato mais velho, o Chache, era o mais tranquilo do trio, dorminhoco e carinhoso, era o preferido do meu pai. Gostava de cochilar ao pé da espreguiçadeira de papai que também tirava rotineiramente um cochilo. Quando um rato aparecia na casa, a gritaria da meninada tirava o Chache da madorra e por instinto o bicho acorria aos pequenos buracos nos cantos de paredes da casa. Meu pai também participava dessa correria atrás do pequeno camundongo. Detectado o buraco a gente metia água e esperava o roedor aparecer respirando com dificuldade. Não ia muito longe e ali o Chache entrava em cena. O bote era rápido e certeiro. Fim de papo para o bichinho. Papai orgulhoso dizia- esse é o MELHOR GATO DO MUUUUNDO!- O Chache fez história lá em casa mesmo depois de morto, apareceu para um meu irmão que correu do banheiro pelado e de cabelos eriçados.

Tito, o do meio, era um gato mourisco de um bom tamanho. Não era afeito a pegar ratos nem dormir nos cantos da casa. Era predador nato em pegar passarinho. Isso mesmo; engaiolados, soltos no pasto ou mesmo o pássaro voando. Era um verdadeiro felino na acepção da palavra. Várias vezes o endiabrado Tito, quebrou nossas gaiolas comendo com avidez um Papa Capim, um Bigode ou um Canário. Predador de boa cepa, o Tito pegava Andorinhas em pleno voo quando elas inadvertidamente davam voos rasantes à cata de insetos no pasto.

Chime o caçula do trio, N vezes diferente dos outros dois, O seu comportamento cambava para coisas mais prosaicas; não parava em casa (só para comer). Era um gato avermelhado, muito bonito, mas, fujão do domicílio. Era especialista em pegar as gatas da redondeza, ou seja, gostava muito de transar. O danado ia longe atrás de uma fêmea no Cio. Seu fetiche era copular no telhado da nossa casa. Fazia um tremendo escarcéu em cima do telhado arrancando telhas contribuindo com as goteiras no inverno próximo. (O bicho gostava tanto do produto que foi visto certa vez a meia légua de casa, 3 km) no canavial do Engenho Souza atrás das bichanas. Não raro ficava dias fora de casa, e quando voltava de uma investida prolongada, felino-sex , o Chime voltava para casa magro e faminto. Recarregava as baterias e de barriga cheia, (nada de rato), esperava outra hora para cair em campo à caça de Gatas.