domingo, 6 de março de 2016

O azar do Mestre Cuca


O azar do Mestre Cuca                   

Base Naval de Natal, ano 1981. Os licenciados daquela tarde de uma sexta feira lotavam a Sala de Estado e com certa ordem se dirigiam ao Cabo de Dia para serem anotados no livro de licenciamentos. O oficial de serviço, sentado frente ao birô, observa calado o pequeno murmúrio dos marinheiros, todos prevendo um gordo fim de semana em seus destinos. O oficial avisa para o Contramestre que dentro de cinco minutos ia liberar o pessoal”.  Nesse instante um jipe pára de chofre frente ao prédio e desce apressado o tenente Ferreira portando uma pasta tipo 007 na mão, fala qualquer coisa com o Tenente Wilson, o Oficial de serviço, e deixa a maletinha preta ao pé do Birô. Despede-se do outro e retorna a passos largos ao jipe que larga acelerado.  Uns retardatários vão chegando procurando o Cabo de Dia, dentre eles o Mestre Cuca portando uma maletinha 007 que a deixa também no pé do birô indo direto ao homem de serviço. Licenciados Formar!- diz o Contramestre para a turma já perfilada como de praxe. O Tenente muito legal deu uma olhada amistosa na formatura, dispensou a revista de malas e sacolas e liberou a galera. O retardatário da 007, aliviado, deixa a formatura , passa pelo birô e pega a maleta preta saindo rápido da sala de Estado e subindo a ladeira e  parte célere ao bairro do Alecrim . Dizia pra si:- o tenente é mesmo um boa praça, não fez a inspeção nas malas. Tanto melhor... Cinco minutos depois, o Portaló (Sala de Estado) estava limpo, vazio restando apenas o pessoal de serviço:  Ronda, Cabo de Dia, o Contramestre e o Oficial de serviço. O tenente oficial de Serviço bem relaxado na cadeira giratória pega na alça da 007 deixada pelo tenente Ferreira e põe sobre as pernas e diz: - o que é que o Ferreira tem aqui dentro que pesa tanto

No Alecrim o Mestre Cuca se embrenha numa Vila de marinheiros pra botar o Paisano, já cercado por dois colegas que perguntaram:- Então deu tudo certo? Responde – Sim, o homem nem inspecionou as Gateiras.

Na Sala de Estado o Tenente curioso diz pra si: engraçado a maleta do Ferreira está fria, chega a estar suada.

No Alecrim, o mestre Cuca e seus campanhas, já com uma garrafa de cerveja na mão, põem a 007 sobre uma mesa e ao abri-la sente um terrível calafrio fluir da sua nuca até a base do Cox.

Na Sala de Estado, o Tenente curiosamente abre a 007 do colega.

No Alecrim, o Mestre Cuca, trêmulo abre a 007 e vê em meio a Planos de Dia, duas impecáveis platinas de Primeiro Tenente QC e os três uníssonos esbravejaram: Naaaaaaaaaaaaaaão!!!

Na sala de Estado o dono da maleta chega e se espanta com aqueles trinta Bifes bem temperados arrumadinhos dentro da sua da 007. O Tenente de Serviço, irônico diz: - certamente houve uma troca de maleta.  

Chache, Tito e Chime


Chache, Tito e Chime

 
Três ladinos gatos de uma mesma casa que fizeram história lá no Engenho Mangueira. Três felinos de características próprias, cada um atuando na sua especialidade. Era assim na casa de Seu Joaquim no Engenho Mangueira que esse trio de Bichanos morava e fazia suas estripulias.

O gato mais velho, o Chache, era o mais tranquilo do trio, dorminhoco e carinhoso, era o preferido do meu pai. Gostava de cochilar ao pé da espreguiçadeira de papai que também tirava rotineiramente um cochilo. Quando um rato aparecia na casa, a gritaria da meninada tirava o Chache da madorra e por instinto o bicho acorria aos pequenos buracos nos cantos de paredes da casa. Meu pai também participava dessa correria atrás do pequeno camundongo. Detectado o buraco a gente metia água e esperava o roedor aparecer respirando com dificuldade. Não ia muito longe e ali o Chache entrava em cena. O bote era rápido e certeiro. Fim de papo para o bichinho. Papai orgulhoso dizia- esse é o MELHOR GATO DO MUUUUNDO!- O Chache fez história lá em casa mesmo depois de morto, apareceu para um meu irmão que correu do banheiro pelado e de cabelos eriçados.

Tito, o do meio, era um gato mourisco de um bom tamanho. Não era afeito a pegar ratos nem dormir nos cantos da casa. Era predador nato em pegar passarinho. Isso mesmo; engaiolados, soltos no pasto ou mesmo o pássaro voando. Era um verdadeiro felino na acepção da palavra. Várias vezes o endiabrado Tito, quebrou nossas gaiolas comendo com avidez um Papa Capim, um Bigode ou um Canário. Predador de boa cepa, o Tito pegava Andorinhas em pleno voo quando elas inadvertidamente davam voos rasantes à cata de insetos no pasto.

Chime o caçula do trio, N vezes diferente dos outros dois, O seu comportamento cambava para coisas mais prosaicas; não parava em casa (só para comer). Era um gato avermelhado, muito bonito, mas, fujão do domicílio. Era especialista em pegar as gatas da redondeza, ou seja, gostava muito de transar. O danado ia longe atrás de uma fêmea no Cio. Seu fetiche era copular no telhado da nossa casa. Fazia um tremendo escarcéu em cima do telhado arrancando telhas contribuindo com as goteiras no inverno próximo. (O bicho gostava tanto do produto que foi visto certa vez a meia légua de casa, 3 km) no canavial do Engenho Souza atrás das bichanas. Não raro ficava dias fora de casa, e quando voltava de uma investida prolongada, felino-sex , o Chime voltava para casa magro e faminto. Recarregava as baterias e de barriga cheia, (nada de rato), esperava outra hora para cair em campo à caça de Gatas.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013




Um “Pastor Alemão” embarcado

Corria o ano de 1967 e a Corveta Purus, V23, cumprindo determinação do Comando do Terceiro Distrito Naval, estava atracada no cais de Salvador, BA assumindo o serviço de socorro marítimo na área do Segundo Distrito Naval. Para nós da guarnição, a mudança de área de trabalho era apenas mais um porto a trabalhar e caprichar nos exercícios e adestramentos. A permanência do navio em Salvador era de dois meses quando então outra corveta assumiria o Socorro Marítimo na área. Por estar fora de sua sede, toda a guarnição morava a bordo, os chamados “crônicos”, aqueles que poucas vezes baixavam a terra. Rotineiramente o navio saía da barra para adestramento e postos de combate, isso duas ou mais vezes por semana; salvo em casos especiais como um pedido de socorro ou mesmo apoio a uma embarcação a deriva em áreas adjacentes. Isso, num todo se tornava rotineiro o dia a dia para a guarnição: dias, semanas e finalmente os dois meses de estada naquela área. Para os marujos de primeira viagem tudo era novidade, aquilo era a vida dos sonhos e quanto mais dias atracado no porto, melhor para se curtir a capital baiana com seus encantos: cidade baixa, cidade alta, elevador Lacerda, Pelourinho, ladeira da montanha e o emaranhado de becos sujos da terra de Castro Alves.  Nos finais de semana, entretanto, a rotina de bordo mudava com um passeio pelos locais mais interessantes da cidade, vez que a prefeitura da capital oferecia ao navio um ônibus para a guarnição usar da melhor forma possível, como visitas a pontos turísticos e áreas de lazer da capital baiana. Naquele sábado o pessoal Fundeou nas areias de Itapoã, praia muito frequentada na época.


Leão o mascote
        
            A praia estava cheia, o movimento de gente, crianças, adultos e jovens em roupas de banho compunham um ambiente característico de fim de semana em Itapoã. A turma do navio, cerca de quinze homens, destacava-se dos banhistas por praticar uma improvisada pelada com uma bola de borracha. A alegria reinava no meio daqueles homens que pareciam crianças. Quando a bola caia na água, o jogo parava até que ela retornasse a areia trazida por um cão enorme que se juntou ao grupo. O cão muito alegre não largava a turma de marinheiros ora pulando e brincando, trazia pedaços de madeira, bola, tudo que se jogava na água. Notava-se que o animal estava à procura de companhia para brincar, pois parecia perdido, sem dono. No fim da tarde a marujada encerra as brincadeiras e retorna para o ônibus em demanda do navio. O mais antigo confere o pessoal e dá ordem ao motorista para largar quando olha para a porta do coletivo e vê o cachorro entrando no salão, com um palmo de língua de fora farejando cada um dos marujos demonstrando extrema alegria. O mais antigo indaga à turma de quem seria aquele cachorro, quem era o dono e fez gesto de enxotá-lo do ônibus, mas a galera não gostou e entraram em consenso e levaram o belo animal para bordo. O cão era um Pastor Alemão de porte acima da média aparentando um ano de idade e ser muito dócil e saudável. Diante de tanta evidencia via-se que o cachorro era bem cuidado e que certamente teria dono, mas ninguém ligou pra isso e adentraram no navio com o bicho que foi efusivamente recebido pela outra turma que estava a bordo. Leão como foi batizado farejava tudo que encontrava pela frente no interior do navio. Estranhou de início o sobe e desce de escadas, mas foi logo se adaptando e de receber tantos afagos já era intimo de toda guarnição. Quando o comandante tomou conhecimento do cachorro no navio, mandou chamar o mais antigo para saber o que tinha acontecido. O sargento explicou o que realmente aconteceu e disse que na hora de voltar para bordo ninguém na praia reclamou a posse do animal. Sem mais conversa, o cão ganhou nome e status de Mascote de Bordo. Providências foram tomadas como vacina antirrábica, vermífugo e carrapaticida, além de justa mordomia com alimentação de bordo e ração balanceada.
            Semanas se foram e o navio passou o Serviço de Socorro Marítimo para outra corveta e largou do cais de Salvador com destino a cidade do Rio de Janeiro levando em seu bojo o cachorro adotado. Com isso, a mascote de bordo a exemplo da guarnição somava também milhas navegadas e dias de mar. Um fato interessante foi observado por todos do navio com relação a Leão, quando o barco entrou na baia da Guanabara. O animal sentiu cheiro de terra por que sentiu a viagem de dois dias literalmente fora do seu convívio e com isso ficou bastante ansioso, mas ao descer no cais, resolveu o problema que tanto o importunava desde a saída de salvador: fez bastante xixi e claro a outra vertente fisiológica. Assim, o tempo passava e cada vez mais, Leão conquistava a galera; todo compartimento do navio ele fuçava ora nas cobertas de cabos e sargentos, ora na coberta de proa e no convés principal na popa onde ele mais gostava de ficar. Quando o toque de Reunir Getal ecoava no Fonoclama, Leão corria para a popa e ficava comportado no meio do pessoal e dava a impressão que se ligava na leitura do Plano do Dia.


                                              O bom filho a casa retorna


         Depois de noventa dias fora de sua sede, a Corveta Purus cruza a barra de Natal e desliza suavemente nas águas mansas do rio Potengi para atracar no Píer da Base Naval. No cais, familiares da marujada aguardavam sorridentes seus pais, maridos e namorados depois de longa jornada fora de casa. Um cordão de isolamento mantinha esses familiares a uma distância segura do navio, observado por uma escolta de fuzileiros navais com seus uniformes impecáveis. Lentamente, o navio se encostava ao cais e as primeiras retinidas arremessadas de bordo eram colhidas no cais pelo pessoal da base, que dava apoio na atracação do barco. Depois dos procedimentos oficiais, a guarnição era liberada a descer ao cais e cenas comoventes eram observadas naqueles instantes. Tudo era alegria, e as crianças agarradas no pescoço dos pais não davam brecha para que as mamães matassem a saudade naqueles breves momentos.                                                                                  
E o nosso Leão considerado da casa nem de longe pensava em seu antigo lar. O canto onde vivia tinha tudo que um cão gostava: comida com ração especial, muita gente para brincar e acima de tudo era a Mascote de Bordo. O pessoal da base e navios da Força ali sediados acorria ao navio e de pronto faziam perguntas; como chegou ao navio, quem era o dono, etc. – puxa que cachorro bonito, é uma graça, - deve ter custado uma nota, não? Mas, Leão não era apenas um cachorro bonito e um grande come-dorme, não. Leão ajudava a puxar cabos, vigiava o cais contra gatos vadios que tentavam subir a prancha do navio e o mais importante de tudo: latia forte no Porta ló ante a aproximação de estranhos. É aí que a galera mais prezava principalmente os cabos de quarto que nos horários de Zero Hora as Quatro indubitavelmente cochilavam em serviço. A corveta em Natal fora de serviço entrou em PNR (Período Normal de Reparos) e daí os necessários reparos nas máquinas nos compartimentos, enfim na parte de marinha-ria foram feitos para que o navio voltasse a operar novamente. Terminado os reparos, fez viagens de abastecimento ao então Território Federal de Fernando de Noronha, patrulha marítima na costa nordeste e uma estada em Belém do Pará. Oito meses se passaram e o navio de volta a Bahia atraca novamente no cais de Salvador, reiniciando a rotina fora da sede. Um adepto de passeios buzinou para mim que já estava na hora de pedir um ônibus e dar uma passada na praia, mas eu argumentei que o encarregado dos esportes logo, logo vai entrar em contato com a Capitania e brevemente o ônibus estaria a nossa disposição. Numa manhã de sábado encosta no cais um ônibus da prefeitura de Salvador a disposição do navio. A galera muito animada dizia:- Leão vai rever o seu pedaço, - será que ele vai reconhecer o lugar? Olha, os mais precavidos achavam que voltar a Itapoã era uma temeridade, outros achavam que depois de oito meses nem Leão se lembraria do lugar nem tampouco teria alguém a reclamar a sua posse. A chegada à praia foi tranquila sem surpresas. As brincadeiras com bola e objetos atirados na água deixavam Leão feliz da vida. Pronto, a turma se imiscuía em várias atividades, cada um ia curtir a sua maneira: um grupo investia em cerveja na barraca colorida, outro grupo partia resoluto para uma barraca de acarajé Pilotada por uma opulenta baiana de tez grafite onde vendia seus quindins. Leão entre um grupo e outro provava de acarajé e dava umas lambidas num copo de cerveja na beirada da mesa. Precedendo a volta para o navio à turma sentada na areia nem ligou para um cidadão de cabelos grisalhos que se acercou de todos e apontando para o cachorro falou: - Dick, Dick! O marujo mais próximo do cachorro agarrou-se ao pescoço de Leão e tomando a direção do ônibus, pronunciou: vamos pessoal, esse cidadão não sabe o que diz. O homem insistiu, Dick!  Dick! E o pobre do animal olhava para a marujada que pronunciava bem alto o nome Leão, Leão! Nessa hora o instinto amigo superou o chamado dos marinheiros e em poucos segundos, num arranque canino, leão parte para o homem de cabelos grisalhos, levanta as patas e ganindo frenético lambe o seu legítimo dono depois de um longo tempo sem o seu carinho. A alegria do cachorro era tanta em cima do cidadão que a galera de bordo atônita aceitava a incontestável posse de (agora Dick) Leão para o seu proprietário. Nesse momento, qualquer chamado por parte dos marinheiros o cachorro nem atendia e, como um cordeiro acompanhou o senhor em direção ao seu antigo convívio. Escusado é dizer que o sentimento de perda foi enorme e profundamente frustrante para todo o navio. Durante os oito meses embarcado o pastor alemão visitou os portos do Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Natal Fernando de Noronha e Belém do Pará. Navegou cerca de 3.000 milhas marítimas e carimbou os postes de tudo quanto é cais, exceto Fernando de Noronha que não descia a terra. O desenlace do caso do Leão não foi nada agradável, mas certamente que ficou nos anais de Casos de Marinha.
                                        
                                                                 Natal, 28/11/2006

domingo, 23 de junho de 2013

Bravo Zulu



Bravo Zulu Corveta Caboclo V 19!





             Quando eu estava na Escola de Aprendizes Marinheiro de Pernambuco em 1955, assisti a entrada da Corveta Caboclo- V 19 em águas brasileiras, cruzando a barra do porto de Recife procedente da Holanda. Lembro que o 5º grupo do qual eu fazia parte foi oficialmente visitar o navio, novinho, cheirando a tinta.
            Hoje, cinquenta anos depois me surpreende ver as imagens na Televisão, a Corveta Cabocla, V 19 bela, intrépida e altaneira nos confins do atlântico, recolhendo destroços do avião da Air France que caiu no oceano atlântico a 1200 km de Fernando de Noronha. Eu não imaginava cinquenta e cinco anos depois a Corveta ainda estivesse em atividade.  Egresso do CL Barroso, C11, embarquei na Corveta Caboclo em janeiro de 1962. Sediada na Base Naval de Natal, fazia parte da antiga Força Patrulha Costeira do Nordeste, (Forpacone).
             A Corveta Caboclo é um navio de médio porte construído na Holanda para as missões de patrulha desencalhe e reboque na costa brasileira. Fazia parte de uma encomenda de dez navios dessa classe feita pela Marinha Brasileira aos estaleiros Holandeses.  Constava do seu armamento um canhão de 76 mm na proa, duas metralhadores Oerlinkon de 20 mm no convés superior e na popa tinha instalado reparos para lançamento de bombas de profundidade e calhas para lançamento de minas anti submarino.  A sua máquina principal constava de dois motores Sulzer Freres 6TD 36 de 1080HP. Para força e luz o navio era equipado com dois motores auxiliares, (MCA) MAN de 250 KVA e um motor de emergência de 150 KVA. Do navio trago ótimas lembranças, e como não, muitas saudades: Na primeira semana do meu embarque o navio fez um Socorro Marítimo na costa paraibana fazendo um reboque do NT Custódio de Melo, sendo assim o meu batismo de fogo. Fiz também a minha primeira entrada na barra de Natal, RN, e os profícuos exercícios de postos de combate.  
       Quando essa operação humanitária terminar, certamente que as autoridades navais vão inserir com tintas vivas na antepara do Passadiço da Valorosa Corveta, o orgulhoso Lema: ECO BARRA.


domingo, 26 de maio de 2013

Quarto Americano



Quarto Americano


Em muitas atividades humanas a pontualidade é um item tão importante que seria um sacrilégio transgredi-la por menor que for um simples atraso. É assim que funciona nas sociedades organizadas; nos meios políticos nas agremiações e também no seio da vida militar. Quando servi na Base Naval de Natal, a condução dos motores geradores da Casa de Força era feita por meia dúzia de marinheiros em todas as vinte quatro horas do dia. Por certo tempo esse número de operadores foi reduzido a três homens o que se fez necessário aumentar o tamanho do quarto de serviço de quatro para seis horas, consequentemente a folga seria também de seis horas. O homem ao sair de Pau (serviço) ia direto para terra, permanecia na Base somente quando estava de serviço nos motores. Era o chamado Quarto Americano. Corria o carnaval de 1966, a cidade de Natal em fevereiro era palco dos festejos de Momo. Muitos marinheiros conheciam o carnaval carioca e participavam das escolas de samba da cidade. O Cabo Japiassu, por exemplo, era presidente da Escola de Samba Aí Vem a Marinha. No domingo gordo depois do Zé Pereira, o Cabo Loiola assume o serviço ao meio dia na Usina como a gente chamava a Casa Força. Seria substituído ás 18.00 horas quando então em terra ia dar uns pinotes na avenida. Os potentes motores Wortington de 750 HP acionavam os grandes geradores que mantinham a Base Naval com energia elétrica. O Loiola atento verifica o funcionamento dos MCPs água óleo e temperatura e a ciclagem no quadro elétrico. Procurava estar sempre em movimento para as horas passarem mais rápido. Vez por outra o graduado olhava para o relógio. Em regime de domingo, aquela parte da Base Naval não tinha ninguém por ali, somente o homem de serviço na casa de força. Às quatro da tarde ele Já fazia os preparativos pra baixar terra. Impaciente dizia pra si- ainda faltam duas horas. Em terra o carnaval comia solto com blocos, agremiação de bairros, e naquele tempo se praticava o Mela Mela. Ás cinco e meia faltando meia hora para a rendição de serviço o amigo Loló já estava pronto a baixar terra; envergava a Burrinha (uniforme azul), os sapatos eram espelhos e o chapéu muito caprichado. Enquanto chegava a hora o amigo ligou o radinho de pilha para distrair. Deu uma olhada nos motores e voltou para a entrada da Usina de olho na rua perscrutando a chegada do Cabo Japiassu que viria substitui-lo. Seis horas, sete horas e o Japi de nada aparecer. Extremamente irado o homem soltava fogo pelas ventas bradando imprecações:- Ah ele me paga! Resignado, depois de três horas de atraso, ele tinha um consolo: a qualquer instante o Japiassu ia chegar e receber o serviço. Concentrou-se no radinho que dava noticias direto das ruas do carnaval. Horrorizado ouviu o locutor da Rádio Cabugi que fazia essa entrevista na concentração das escolas:- e agora vamos ouvir a palavra do presidente da escola de samba Aí vem a Marinha, - fala Cabo Japiassu!




 Natal, em 28 de Dezembro de 2010- Mário Monteiro




terça-feira, 21 de maio de 2013

Minhas Atividades na Corveta Purus V 23





Embarque em 17/10/66 procedente da Base Naval de Natal sendo o meu segundo embarque nessa Classe de navio, uma vez que na Corveta Caboclo V17, estive a bordo a titulo de “Destacado”. A Corveta Purus, da Classe, “Imperial Marinheiro”, tinha 66.0 metros de comprimento e 8.0 metros de boca. Construída nos estaleiros da Holanda tinha a função de patrulhar e fazer reboques na costa brasileira.
Termo de Viagem Nº 094/66- Rocega de Ferro perdido por outra Corveta próximo a barra de Natal, adestramento de Aprendizes Marinheiros a Escola de Alagoas, escolta do NE Custódio de Melo e transporte de pessoal e material. 1482 milhas navegadas e 8.5 dias de mar. Portos: Recife Natal e Maceió.
Termo de Viagem 0Nº95/66- Abastecimento do Arquipélago de Fernando de Noronha transporte de pessoal e material tentativo de interceptação do navio Liberiano “Falaika”. 1210 milhas navegadas e 5.5 dias. Portos: Fundeadouro da Ilha de Fernando de Noronha, Fortaleza e Natal.
Termo de Viagem Nº 096/67- Assunção de Serviço de Socorro Marítimo na área do Segundo Distrito Naval, Exercício de adestramento e Reboque de Alvo para tiro de Artilharia de Costa do Exercito Brasileiro em Salvador. 710 milhas navegadas e 3.5 dias de mar. Portos: Natal Recife e Salvador.
 Termo de Viagem Nº 97/67- Reboque de alvo para Exercício de Tiro de Artilharia de Costa do Exercito em Salvador, recolhimento da boia de sinalização nº 2 de Aratu e exercício de adestramento . 095 milhas navegadas e 1.0 dias de mar. Porto Salvador.
Termo de Viagem Nº- 98/67- Exercício de Adestramento e viagem ao Porto do Rio de Janeiro, para transporte de material para a área do Terceiro Distrito Naval. 735 milhas navegadas e 3.0 dias de mar. Portos: Salvador e Rio de Janeiro.
Termo de Viagem Nº 102/67- Experiência de Máquinas, formação do grupo de reboque do Dique Flutuante Cidade do Natal (AFDL39) de Recife a Natal, assunção do serviço de socorro marítimo na área do 2º distrito naval e exercício de desembarque anfíbio com o Grupamento de Fuzileiros Navais. 1.085 milhas navegadas e 5.5 dias de mar.
Termo de Viagem Nº 103/67- Transporte de pessoal e material. 690 milhas navegadas e 3.0 dias de mar. Portos: Salvador e Ilhéus.
Termo de Viagem Nº 104/68- Abastecimento do Arquipélago de Abrolhos (Rádio Farol), viagem ao Rio de Janeiro após passar o Serviço de Socorro Marítimo na Área do 2º Distrito Naval. 725 milhas navegadas e 2.5 dias de mar.
Termo de Viagem Nº 105/68- Viagem de Reboque da Draga “Pernambuco” da Companhia Brasileira de Dragagem. 1.319 milhas navegadas e 8,5 dias de mar. Portos: Salvador, Recife e Natal.
Termo de Viagem Nº 107/68- Transporte de material e pessoal para o Território Federal de Fernando de Noronha e Atol das Rocas; apoio a plataforma “Rig Jubille”; viagem para assumir Socorro Marítimo na Área do 2º Distrito Naval; viagem para socorro e recolhimento de náufragos do NM “Fernão Dias”. 2453.1 milhas navegadas e 9,5 dias de mar. Portos: Fortaleza, Natal, Recife e Salvador.
Termo de Viagem Nº 108/68- Viagem de abastecimento e comunicações, abastecimento e transporte de material e pessoal para o Arquipélago de Abrolhos. 591,7 milhas navegadas e 2,5 dias de mar. Portos: Salvador e Ilhéus.
Termo de Viagem Nº 109/68- Viagem de busca ao pesqueiro “Sudepe-I”; viagem de abastecimento ao Arquipélago de Abrolhos, viagem ao Rio de Janeiro após passar o serviço de socorro na área do 2º Distrito Naval em Salvador. 1191,1 milhas navegadas e 4,5 dias de mar. Portos: Salvador, Arquipélago de Abrolhos e Rio de Janeiro.
Termo de Viagem Nº 110/68- Viagem de regresso a Natal e transporte de material para Salvador, Recife e Natal. 1.282, milhas navegadas e 5,5 dias de mar. Portos: Rio de Janeiro, Vitória, Salvador, Recife e Natal.
Termo e viagem Nº 111/68- Viagem para prestar socorro ao NTR Ary Parreiras,  socorro ao pesqueiro “Alfa”, apoio ao reboque da “ Draga Paraná”. 1.052 milhas navegadas e 6,5 dias de mar. Portos Natal, Recife e Fortaleza.
Termo de Viagem Nº 112/68- Viagem para transporte de material para Fernando de Noronha. 310 milhas navegadas e 2.0 dias de mar. Portos: Natal e Recife.
Termo de Viagem Nº 113/68- Viagem de Adestramento, transporte de material para  o Atol das Rocas, transporte de Rádio Amadores para os Rochedos de São Pedro e São Paulo, reboque de alvo para exercício de tiro, transporte de material para Fernando de Noronha.3.226,8 milhas navegadas e 16,5 dias de mar. Portos : Natal e Recife.
Termo de Viagem Nº 115/69- Viagem para experiência de máquinas.  49.0 milhas navegadas e Zero dia de mar. Porto: Natal.
Termo de Viagem Nº 116/69- Viagem de transporte de material e abastecimento do Território Federal de Fernando de Noronha. 1.173,7 milhas navegadas e 5,5 dias de mar. Portos: Maceió, Recife e Natal.
Somatório de milhas e dias navegados: 19,378 milhas navegadas e 93 dias de mar
Desembarquei da Corveta Purus em 25 de Abril de 1969 para posterior apresentação no Centro de Instrução Almirante Tamandaré, (CIAT).
Tempo de embarque na Corveta: Dois anos e seis meses. Foi um embarque muito proveitoso profissionalmente. Fiz grandes amigos e conheci portos que antes não conhecia; foi onde participei dos primeiros reboques, desencalhes e operações especiais.


Dados extraídos da Caderneta Registro, (CR) em 19 de Agosto de 2011.
                                                                                                 Mário Monteiro