domingo, 26 de maio de 2013

Quarto Americano



Quarto Americano


Em muitas atividades humanas a pontualidade é um item tão importante que seria um sacrilégio transgredi-la por menor que for um simples atraso. É assim que funciona nas sociedades organizadas; nos meios políticos nas agremiações e também no seio da vida militar. Quando servi na Base Naval de Natal, a condução dos motores geradores da Casa de Força era feita por meia dúzia de marinheiros em todas as vinte quatro horas do dia. Por certo tempo esse número de operadores foi reduzido a três homens o que se fez necessário aumentar o tamanho do quarto de serviço de quatro para seis horas, consequentemente a folga seria também de seis horas. O homem ao sair de Pau (serviço) ia direto para terra, permanecia na Base somente quando estava de serviço nos motores. Era o chamado Quarto Americano. Corria o carnaval de 1966, a cidade de Natal em fevereiro era palco dos festejos de Momo. Muitos marinheiros conheciam o carnaval carioca e participavam das escolas de samba da cidade. O Cabo Japiassu, por exemplo, era presidente da Escola de Samba Aí Vem a Marinha. No domingo gordo depois do Zé Pereira, o Cabo Loiola assume o serviço ao meio dia na Usina como a gente chamava a Casa Força. Seria substituído ás 18.00 horas quando então em terra ia dar uns pinotes na avenida. Os potentes motores Wortington de 750 HP acionavam os grandes geradores que mantinham a Base Naval com energia elétrica. O Loiola atento verifica o funcionamento dos MCPs água óleo e temperatura e a ciclagem no quadro elétrico. Procurava estar sempre em movimento para as horas passarem mais rápido. Vez por outra o graduado olhava para o relógio. Em regime de domingo, aquela parte da Base Naval não tinha ninguém por ali, somente o homem de serviço na casa de força. Às quatro da tarde ele Já fazia os preparativos pra baixar terra. Impaciente dizia pra si- ainda faltam duas horas. Em terra o carnaval comia solto com blocos, agremiação de bairros, e naquele tempo se praticava o Mela Mela. Ás cinco e meia faltando meia hora para a rendição de serviço o amigo Loló já estava pronto a baixar terra; envergava a Burrinha (uniforme azul), os sapatos eram espelhos e o chapéu muito caprichado. Enquanto chegava a hora o amigo ligou o radinho de pilha para distrair. Deu uma olhada nos motores e voltou para a entrada da Usina de olho na rua perscrutando a chegada do Cabo Japiassu que viria substitui-lo. Seis horas, sete horas e o Japi de nada aparecer. Extremamente irado o homem soltava fogo pelas ventas bradando imprecações:- Ah ele me paga! Resignado, depois de três horas de atraso, ele tinha um consolo: a qualquer instante o Japiassu ia chegar e receber o serviço. Concentrou-se no radinho que dava noticias direto das ruas do carnaval. Horrorizado ouviu o locutor da Rádio Cabugi que fazia essa entrevista na concentração das escolas:- e agora vamos ouvir a palavra do presidente da escola de samba Aí vem a Marinha, - fala Cabo Japiassu!




 Natal, em 28 de Dezembro de 2010- Mário Monteiro




terça-feira, 21 de maio de 2013

Minhas Atividades na Corveta Purus V 23





Embarque em 17/10/66 procedente da Base Naval de Natal sendo o meu segundo embarque nessa Classe de navio, uma vez que na Corveta Caboclo V17, estive a bordo a titulo de “Destacado”. A Corveta Purus, da Classe, “Imperial Marinheiro”, tinha 66.0 metros de comprimento e 8.0 metros de boca. Construída nos estaleiros da Holanda tinha a função de patrulhar e fazer reboques na costa brasileira.
Termo de Viagem Nº 094/66- Rocega de Ferro perdido por outra Corveta próximo a barra de Natal, adestramento de Aprendizes Marinheiros a Escola de Alagoas, escolta do NE Custódio de Melo e transporte de pessoal e material. 1482 milhas navegadas e 8.5 dias de mar. Portos: Recife Natal e Maceió.
Termo de Viagem 0Nº95/66- Abastecimento do Arquipélago de Fernando de Noronha transporte de pessoal e material tentativo de interceptação do navio Liberiano “Falaika”. 1210 milhas navegadas e 5.5 dias. Portos: Fundeadouro da Ilha de Fernando de Noronha, Fortaleza e Natal.
Termo de Viagem Nº 096/67- Assunção de Serviço de Socorro Marítimo na área do Segundo Distrito Naval, Exercício de adestramento e Reboque de Alvo para tiro de Artilharia de Costa do Exercito Brasileiro em Salvador. 710 milhas navegadas e 3.5 dias de mar. Portos: Natal Recife e Salvador.
 Termo de Viagem Nº 97/67- Reboque de alvo para Exercício de Tiro de Artilharia de Costa do Exercito em Salvador, recolhimento da boia de sinalização nº 2 de Aratu e exercício de adestramento . 095 milhas navegadas e 1.0 dias de mar. Porto Salvador.
Termo de Viagem Nº- 98/67- Exercício de Adestramento e viagem ao Porto do Rio de Janeiro, para transporte de material para a área do Terceiro Distrito Naval. 735 milhas navegadas e 3.0 dias de mar. Portos: Salvador e Rio de Janeiro.
Termo de Viagem Nº 102/67- Experiência de Máquinas, formação do grupo de reboque do Dique Flutuante Cidade do Natal (AFDL39) de Recife a Natal, assunção do serviço de socorro marítimo na área do 2º distrito naval e exercício de desembarque anfíbio com o Grupamento de Fuzileiros Navais. 1.085 milhas navegadas e 5.5 dias de mar.
Termo de Viagem Nº 103/67- Transporte de pessoal e material. 690 milhas navegadas e 3.0 dias de mar. Portos: Salvador e Ilhéus.
Termo de Viagem Nº 104/68- Abastecimento do Arquipélago de Abrolhos (Rádio Farol), viagem ao Rio de Janeiro após passar o Serviço de Socorro Marítimo na Área do 2º Distrito Naval. 725 milhas navegadas e 2.5 dias de mar.
Termo de Viagem Nº 105/68- Viagem de Reboque da Draga “Pernambuco” da Companhia Brasileira de Dragagem. 1.319 milhas navegadas e 8,5 dias de mar. Portos: Salvador, Recife e Natal.
Termo de Viagem Nº 107/68- Transporte de material e pessoal para o Território Federal de Fernando de Noronha e Atol das Rocas; apoio a plataforma “Rig Jubille”; viagem para assumir Socorro Marítimo na Área do 2º Distrito Naval; viagem para socorro e recolhimento de náufragos do NM “Fernão Dias”. 2453.1 milhas navegadas e 9,5 dias de mar. Portos: Fortaleza, Natal, Recife e Salvador.
Termo de Viagem Nº 108/68- Viagem de abastecimento e comunicações, abastecimento e transporte de material e pessoal para o Arquipélago de Abrolhos. 591,7 milhas navegadas e 2,5 dias de mar. Portos: Salvador e Ilhéus.
Termo de Viagem Nº 109/68- Viagem de busca ao pesqueiro “Sudepe-I”; viagem de abastecimento ao Arquipélago de Abrolhos, viagem ao Rio de Janeiro após passar o serviço de socorro na área do 2º Distrito Naval em Salvador. 1191,1 milhas navegadas e 4,5 dias de mar. Portos: Salvador, Arquipélago de Abrolhos e Rio de Janeiro.
Termo de Viagem Nº 110/68- Viagem de regresso a Natal e transporte de material para Salvador, Recife e Natal. 1.282, milhas navegadas e 5,5 dias de mar. Portos: Rio de Janeiro, Vitória, Salvador, Recife e Natal.
Termo e viagem Nº 111/68- Viagem para prestar socorro ao NTR Ary Parreiras,  socorro ao pesqueiro “Alfa”, apoio ao reboque da “ Draga Paraná”. 1.052 milhas navegadas e 6,5 dias de mar. Portos Natal, Recife e Fortaleza.
Termo de Viagem Nº 112/68- Viagem para transporte de material para Fernando de Noronha. 310 milhas navegadas e 2.0 dias de mar. Portos: Natal e Recife.
Termo de Viagem Nº 113/68- Viagem de Adestramento, transporte de material para  o Atol das Rocas, transporte de Rádio Amadores para os Rochedos de São Pedro e São Paulo, reboque de alvo para exercício de tiro, transporte de material para Fernando de Noronha.3.226,8 milhas navegadas e 16,5 dias de mar. Portos : Natal e Recife.
Termo de Viagem Nº 115/69- Viagem para experiência de máquinas.  49.0 milhas navegadas e Zero dia de mar. Porto: Natal.
Termo de Viagem Nº 116/69- Viagem de transporte de material e abastecimento do Território Federal de Fernando de Noronha. 1.173,7 milhas navegadas e 5,5 dias de mar. Portos: Maceió, Recife e Natal.
Somatório de milhas e dias navegados: 19,378 milhas navegadas e 93 dias de mar
Desembarquei da Corveta Purus em 25 de Abril de 1969 para posterior apresentação no Centro de Instrução Almirante Tamandaré, (CIAT).
Tempo de embarque na Corveta: Dois anos e seis meses. Foi um embarque muito proveitoso profissionalmente. Fiz grandes amigos e conheci portos que antes não conhecia; foi onde participei dos primeiros reboques, desencalhes e operações especiais.


Dados extraídos da Caderneta Registro, (CR) em 19 de Agosto de 2011.
                                                                                                 Mário Monteiro

Flagrante Singular



                      Os Navios da Marinha de Guerra do Brasil, sempre foram ao longo dos tempos alvos de curiosidades da comunidade civil.  Como seria lá dentro?  Cozinha, alojamentos, banheiros, etc. Na realidade o navio em atividade é uma casa ambulante onde existe tudo que nós desfrutamos em terra. Se um barco estiver no meio do oceano, funciona ali a cozinha, os quartos de dormir, banheiros, sala de televisão e outras comodidades que a vida em terra oferece. A Marinha sabia disso e, facilitava aos curiosos, visitação pública em dias especiais na Base Naval de Natal, como arribada nos portos e datas festivas: 11 de Junho, Batalha Naval de Riachuelo e 13 de Dezembro, Dia do Marinheiro.
                 No início da década de 60 passei a conviver com os navios da área do 3º Distrito Naval em Natal. Eram navios de pequenos e médios portes tais como: Navios Faroleiros navios patrulha e as muito conhecidas Corvetas. Esse tipo de navio, já de porte médio, tinha uma guarnição de 60 homens. Na época tínhamos quatro corvetas acantonadas na Base Naval de Natal compondo a Força Patrulha Costeira do Nordeste, (Forpacone): CV Caboclo V19, CV Forte de Coimbra V18, CV Ipiranga V17 e CV Purus V23. Esses navios aplicavam uma política muito salutar com as praças mais graduadas. Era facilitado ao Sargento ou Cabo quando de serviço nos finais de semana, trazer a família: esposa ou namorada para almoçar a bordo. Essa forma democrática de relacionamento tinha um cunho social de interação de o familiar conhecer o ambiente de trabalho do namorado ou marido a bordo de um navio que para um civil era um momento privilegiado.
 Eu na época, CABO-MO, presenciei um fato curioso num desses finais de semana.  O cabo eletricista Osmar, muito paquerador, prometia um dia levar a esposa para almoçar a bordo, (CV Forte Coimbra-V-18), mas sempre inventava uma desculpa ficando para outra oportunidade. O sonho de Amélia era conhecer e entrar no navio do maridão. Para se entrar na Base, a visita se apresentava no portão principal e falar com o sargento da guarda.  O mais antigo escalava um marujo para guiar a visita até o navio. O cais ficava a uma distância razoável e demandava certo tempo o marinheiro deixar uma pessoa Lá embaixo e retornar ao portão.
Em uma tarde de domingo, Amélia pega o fusquinha e resolve fazer uma surpresa ao marido. No portão da base naval ela fala com o sargento da guarda que pretendia visitar a Corveta Forte de Coimbra. Naquele momento um auxiliar da guarda tinha descido a ladeira conduzindo um visitante. Uma jovem muito bonitinha se aproxima e fala para o chefe da guarda: - Sargento, eu conheço bem o caminho e coincidentemente estou indo para a Corveta e se a senhora me der uma carona... Tudo resolvido as mulheres descem a ladeira num papo muito amistoso. – “Então, ainda não conhece o navio?” Amélia, mais contida dizia, - estou fazendo meu debut aqui na base hoje. - Ah, o que é que o teu marido faz a bordo pergunta à jovem? – Eletricista, diz Amélia! – O meu marido também, responde a outra.  O carro estaciona no cais elas caminham para o navio. – Amélia curiosa indaga:- como se chama mesmo o teu marido? Osmar, muito fofo! Pera aí, o meu também se chama Osmar! A coisa degringolou, e o cabo Osmar ao ver as duas encrencas juntas teve uma Crise de Camaleão, isto é, mudou de cor varias vezes e desabou como um fardo no convés. Desolada Amélia esperou o Garanhão acordar e disse entre dentes:- em casa a gente conversa!